quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lívia Manfredinni-A metamorfose CAP.1

Eu estava andando por corredores desconhecidos, o coração saltando do peito de nervosismo, com medo de enfrentar meu primeiro dia de aula ali em Union. Eu tinha medo das aulas, dos professores, e, principalmente, dos alunos veteranos. Será que eles iriam me aceitar? Ou iriam fazer da minha vida um inferno ali nos Estados Unidos? Ou me deixariam "passar batida"?

Eu sinceramente preferia a primeira ou a última pergunta.

Foi quando aconteceu. Durante a minha longa caminhada pelo corredor ninguém tinha reparado em mim, mas a situação tinha acabado de mudar. Todos apontavam descaradamente para mim, cochichando nos ouvidos dos outros ou rindo abertamente de mim. Então minha mãe apareceu ali, um sorriso em seus lábios.

-Mãe! - exclamei, correndo para ela.

Meu pai apareceu ali ao lado dela. Eles se entreolharam e então começaram a rir, e não era uma risada normal. Era uma risada debochada, escrachada; e era para mim. Arregalei os olhos, parando no meio da corrida para abraçá-los, atônita. Aquela risada tinha sido a pior de todas, não por ser uma risada de deboche, mas por vir deles, que me davam confiança quando eu estava insegura, que secavam as minhas raras lágrimas, que dariam a vida por mim.

Minha visão foi ficando embaçada pelas lágrimas que se formavam ali. Tentei correr, sair dali, mas meus pés estavam pregados no chão e não me obedeciam, e eu fiquei ali parada feito uma idiota, sem acreditar em meus olhos.

Uma baforada quente em meu rosto e uma lambida. Abri os olhos, fazendo as lágrimas ali caírem, e sentei, assustada."Qual é Lívia, que sonho pra se ter! Você já tem dezessete, toma vergonha na cara e pare de ser como uma criança com medo do primeiro dia de aula!" Me repreendi, percebendo que Halley, a labradora da minha tia, tinha me acordado de uma forma (só para ela) carinhosa. Olhei para o despertador ao lado da minha cama; eram cinco e meia da manhã.

-Valeu Halley. - "agradeci", mal - humorada. Ela fez uma cara engraçada, tipo, "Você está parecendo uma bruxa com esses cabelos assanhados!". Olhei para o outro lado do quarto onde minha prima, Camila Portinari, dormia. Ela tinha cedido o quarto para mim, já que Vítor, meu outro primo, irmão mais velho dela, dividia o quarto com o Thomas, o meio-irmão mais novo deles de 5 anos. Ela era minha prima mais próxima já que minha mãe e a irmã (tia Anna) eram "indesgrudáveis", e nossa amizade tinha sobrevivido a 6 anos de distância pois eles vieram tentar uma vida nova aqui depois da morte do tio João, pai dela e do Vítor.

Aqui minha tia conheceu Peter Atkins, com quem se casou e teve o Thomas , um garotinho de olhos castanhos e cabelos escuros muito fofo que me chamava de Lili em vez de Liv, meu novo apelido "americanizado".

Acabei saindo para dar comida e água para Halley, que começou a latir, acordando a casa inteira.

-Desculpa tia. - me desculpei pela enésima vez.

-Para com isso Liv. Se ela não começasse a latir ia acabar indo acordar cada um de nós puxando nossos cabelos.

Ficamos ali na cozinha, rindo, conversando e comendo até que tio Peter teve que ir trabalhar (ele era um músico desempregado, por isso tinha um antiquário) e tia Anna mandou irmos nos arrumar. Foi só mencionarem a escola para que meu estômago revirasse incômodamente.

A escola ali começava bem mais tarde do que as escolas no Brasil, o que era uma vantagem pois eu odiava acordar cedo demais. Além do mais eu ainda estava com sono por causa do fuso-horário e precisaria de mais ou menos uma semana para me acostumar de verdade.

-Nervosa? - perguntou Camila enquanto entrávamo no carro. Ela e Vítor tinham um carro (tinham de dividi-lo mas ainda assim era um carro) pois já tinham mais de dezesseis e podiam dirigir.

-Um pouco. - respondi, entrando no carro. Eles riram.

-É, você está nervosa sim Liv. - caçoou Vítor.

A viagem para a escola não demorou muito, quinze minutos no máximo, o que me impressionou. Talvez tenha sido mais rápida pelo fato do carro estar tremendo por causa do som, já que estava tocando Linkin Park no máximo volume no carro, o que me alegrou.

-Preparada? - perguntou Camila.

-Eu tenho que estar. - respondi, a voz mais confiante do que eu.

-Sem problema. - acrescentou Vítor. - Eu te protejo. - disse ele com um sorriso.

Sorri com a solidariedade dos meus primos, abrindo a porta sem cerimônia sabendo que não adiantaria adiar, saindo para o ar frio e gélido da minúscula, cinzenta e sem sol Union. Agora mais do que nunca eu queria estar no calor do Brasil, de Fortaleza, na minha antiga escola com os antigos amigos e com (suspiro) meus pais. Mas aquele era o objetivo do intercâmbio: interagir com outras culturas. Respirei fundo o ar gelado.

Union High School, pronta ou não, lá vou eu.

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